Medellín foi fundada em 2 de novembro de 1616, mas seu crescimento significativo começou no século XIX, a partir da Revolução Industrial, que gerou desenvolvimento econômico e populacional. Durante as décadas de 1980 e 1990, a cidade enfrentou sérios problemas relacionados ao narcotráfico e à violência.
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Contudo, a partir dos anos 2000, Medellín passou por um processo impressionante de transformação, com investimentos diferenciados em infraestrutura, educação e cultura.
A Conexão
Por conta da programação da 51º Feira do Livro, fomos visitados pelo ex-secretário de Cultura de Medellín, Jorge Melguizo, que foi responsável por boa parte das transformações ocorridas durante o tempo em que esteve à frente da gestão pública. Melguizo implementou diversas iniciativas culturais para revitalizar a cidade e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, foi uma força motriz por trás de projetos como a criação de bibliotecas públicas e espaços culturais, promovendo a democratização do acesso à cultura e à educação.
Para tornar a cidade mais segura, Medellín criou um movimento de estímulo à ocupação dos espaços públicos, investindo em espaços de convivência ao invés de policiamento, que influenciou os moradores a circularem pelas ruas e a manterem mais contato entre si. As ideias de Melguizo levaram Medellín a alcançar o prêmio de cidade mais inovadora do mundo em 2013, desbancando Tókio e Nova York. Em 2019, Medellín foi reconhecida como a cidade mais inteligente do mundo.
Anfitrião
Como anfitrião do nobre visitante, tive a oportunidade de realizar um tour por Santa Maria, apresentando nossa cidade, mas não apenas pontos tradicionais, levei a bairros, como Perpétuo Socorro, Chácara das Flores, Divina Providência, Caturrita e Nova Santa Marta para observar visão de Melguizo sobre nosso município. Confira abaixo uma entrevista realizada com o reconhecido gestor público:
Como Medellín conseguiu dar a volta por cima?
Levamos duas décadas para mudar nossa história e passamos por etapas, como a formação de capacidade instalada, consolidação da sociedade civil, fortalecimento das instituições, construção de alianças público privada e comunitárias. Ainda implantamos políticas públicas de transparência, elevamos o orçamento da educação e da cultura, implantamos projetos urbanos integrais, construímos uma nova economia e adotamos uma pedagogia cidadã.
Quais são suas impressões sobre a cidade de Santa Maria?
É a segunda vez que venho. Acho que preciso vir mais, especialmente, caminhar mais para ter uma impressão melhor da cidade. Mas consigo apontar três conceitos. Um, gosto de cidades deste tamanho, entre 250 e 400 mil habitantes, me parece um tamanho ideal. Dois, vocês têm uma localização estratégica no Rio Grande do Sul, um Estado muito rico, com muitas riquezas naturais, fortalezas no agronegócios e na diversidade de empresas.
Três, acho que vocês têm um conceito de Cidade Universitária, de ecossistema, com ampla possibilidade de ser fator gerador de muitas coisas novas para a cidade. Cidades Universitárias, em si mesmas, são cidades jovens, criativas e inovadoras. Também fiquei com a sensação de abandono por muitos anos, de muitas edificações históricas e patrimoniais que merecem melhor sorte, que poderiam estar em melhor condições hoje. Ainda bem que muitas estão sendo revitalizadas.
Essa riqueza arquitetônica deveria ser ressaltada permanentemente, limpando as fachadas, evitando os cabos aéreos, melhorando as calçadas, as paredes, melhorando os espaços de convivência. Enfim, acho que esse patrimônio histórico deveria ter maior realce, algo como o que vi na Vila Belga, que há um resgate do patrimônio. Também percebi que é uma cidade sem grandes complexidades urbanas, ou seja, muitas das cidades latinoamericanas têm grandes favelas ou assentamentos informais. Mesmo na periferia de vocês, não vi que tenha algo semelhante, realmente, têm uma cidade mais configurada urbanamente, ou seja, os desafios não são grandes.
Quais sugestões você daria para Santa Maria?
A primeira sugestão é para GARE, trabalhar muito bem no conteúdo, ou seja, o prédio é espetacular, mas se o conteúdo não for atrativo ou se o conteúdo não se tornar um processo que seduz boa parte da população, permanecerá apenas um belo edifício. Duas ou três ideias vêm à mente nesse conteúdo, mas poderiam, claro, passar por um filtro. Uma delas, é abrigar uma biblioteca infantil divertida, diferente, lúdica que atraia as famílias de Santa María.
Mas também tendo uma população universitária é necessário pensar nos jovens. Em algum tipo de espaço para gerar uma atração especial à juventude, ou seja, um lugar de encontro. Nesse sentido, deve ter uma oferta gastronômica. Porém, esse conteúdo, a forma como será alojado, como será desenhado deve ser lindo, teria de ter móveis, atrativos e outros itens para impressionar quem chegar nessa região. Tudo pensado para que o visitante saia com a percepção que é um espaço único em Santa Maria, único no Rio Grande do Sul, único no Brasil. Outra sugestão no geral para a cidade é retirar os espaço das ruas para a circulação de veículos.
Vou insistir em todas as cidades onde eu for. É um desperdício ver ruas do tamanho das que vocês têm. É necessário tirar o espaço das ruas e aumentar o das calçadas. A cidade deve ter mais jardins, mais verde, mais flores e, principalmente, um mobiliário urbano melhor, com espaços públicos que promovam reunião e sejam melhores para as pessoas.